Carnificina e muito café no lançamento mais pedido do ano.
Tokyo Ghoul
me surpreendeu. Imagine a seguinte situação: uma pessoa vai ler a série
sem conhecer absolutamente nada sobre, sem saber sinopse ou ter o mínimo
de conhecimento de plot, apenas julgar pelo personagem que tem um olho
bizarro vermelho e… Gostar pra caramba. Foi exatamente o que aconteceu
comigo. O que sabia era que ele havia feito um sucesso enorme e se
popularizado com se anime, mas era algo que podia deixar para depois,
algo meio “verei nas minhas férias de fim de ano”. Fui pega desprevenida e nos parágrafos a seguir conto minhas opiniões sobre o primeiro volume dessa série fantástica.
A HISTÓRIA
Estranhos
assassinatos começam a acontecer em Tokyo. Devido à evidência líquida
nos casos, a polícia concluiu que os ataques são resultados de uma
criatura que se alimenta de outros seres, um “Ghoul”. Dois amigos de faculdade, Kaneki e Hide,
criam a teoria de que os ghouls estão imitando os humanos, por isso
nunca são vistos ou capturados. Eles nem imaginam que essa teoria pode
ser verdade e a coisa sair do seu controle. Kaneki acaba se envolvendo
sem saber com uma dessas criaturas, que ao atacar o garoto acaba
morrendo acidentalmente, mas o deixa seriamente ferido e a ponto de
morrer. A única salvação? Um transplante envolvendo a própria criatura,
mas que poderá trazer consequências terríveis para Kaneki. O que
acontecerá a partir de agora?
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Tokyo Ghoul é um mangá de Sui Ishida,
e um dosmais comentados desde o seu lançamento em 2011, e, desse ano
para cá, acabou ganhando bastante popularidade, chegando ao seu ápice em
2014, um ano bem produtivo: ficou entre os títulos mais vendidos do
ano, no Japão, contabilizando mais de seis milhões de cópias vendidas de seu mangá; ganhou uma adaptação em anime pelo estúdio Pierrot; finalizou o mangá – com 14 volumes encadernados – e retornou no mês seguinte, com sua sequência, o Tokyo Ghoul:re, que
possui três volumes até o momento (e que convenhamos que deve vir ao
Brasil logo ao final da série principal). A franquia ainda inclui três
light novels – Tokyo Ghoul Hibi, Kuhaku e Sekijitsu, um spin-off, a segunda temporada do anime, intitulada Tokyo Ghoul √A e vários jogos para plataformas mobile e Playstation.
A história
tem um protagonista bem clichê. A personalidade predileta dos autores
que buscam um personagem que sofre diversas alterações físicas,
emocionais e mentais durante a sua trajetória. Perdemos as contas de
quantas vezes um fracote, um nerd ou excluído que sofria bullying, foi o
alvo de um acontecimento anormal que mudaria toda a sua vida; e
referências é o que não faltam. Mas, apesar dessa característica, Sui Ishida e seu personagem, Ken Kaneki
– o reservado que se emergia no mundo dos livros – chegaram para me
impressionar e colocar fé na criatividade dos que optam por desenhar um
mangá de ficção. O ponto mais forte do primeiro volume é a maneira como a
transformação de Kaneki – de humano para um ghoul – é feita; não há um feitiço bobo que apareceu do buraco ou uma cena totalmente inventada, há o que podemos chamar de original, que não se vê mais por aí com tanta frequência. “Esse sim foi um bom plot!” e esse plot acaba comprando o leitor desde o primeiro capítulo, prometendo um verdadeiro desenvolvimento.
Ken Kaneki,
como já havia dito antes, é o típico garoto reservado de poucos amigos,
que prefere se isolar lendo um bom livro ao invés de sair por aí, já
seu amigo, Hide Nagachika, é o completo oposto do protagonista; ele está sempre animado, fala besteiras e não é nem um pouco tímido. Touka Kirishima é a atendente misteriosa do café que ambos os meninos frequentam, um tanto “tsundere” e que não simpatiza com Ken. Yomo
é um senhor que também trabalha no café Anteiku, tão misterioso quanto a
senhorita (emo, gótica, rockeira) Touka e que é responsável por cuidar
da “sujeira” dos ghouls. Ele tem um cara de mordomo macabro, não tem?
Um ponto que
subiu muito no meu conceito foi o modo como o mangaká desenha em
algumas cenas. Quando os ghouls realmente mostram o que são, atacando
suas presas, e quando Kaneki está no ápice da insanidade, as cenas se
tornam fantásticas, intensas, impactantes e que transmitem para quem lê
aquele gostinho de combinação perfeita. Ainda falando sobre o traço do
autor, a única “reclamação” que teria para fazer sobre o mesmo é que,
mesmo desenhando divinamente em um ponto, o mesmo deixa a desejar quando
o assunto é desenhar personagens femininas – a primeira vista, a Kirishima
parecia “emo, gótica, rockeira, depressiva” – e também, acredito que
faltam mais detalhes no próprio Kaneki quando ele está “normal”.
Aparentemente o mesmo evolui bastante com o tempo durante o mangá, mas
isso veremos.
Outro tópico ainda a ressaltar é a pegada psicológica de Tokyo Ghoul.
Eu simplesmente amo obras com um bom drama psicológico, que ferram com a
mente e me fazem pensar sobre determinado foco durante horas. E foi
disso que senti falta no mangá. Há cenas fortes, mas que podem ser ainda
mais aproveitadas por conta do plot e do personagem principal. Espero
que nos próximos volumes haja mais impacto nesse aspecto e que ele saia
do mediano.
Mesmo se tratando de uma autora fictícia, o mangá constantemente cita as obras e trechos dos livros de Sen Takatsuki (só
eu que dei uma consultada no Google para ver se ela realmente existia?)
e, mesmo sendo fruta da imaginação do autor, isso também deixa a obra
mais interessante. E me desmanchei quando aparece uma citação de Herman
Hesse – “A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quer nascer tem que destruir um mundo.” – no fim do capítulo oito, porque além de combinar tanto com o momento, ainda enriqueceu a cena.
Como não gostar de um mangá tão rico?
A EDIÇÃO NACIONAL
Tokyo Ghoul chega ao Brasil em formato 15x21cm, em periodicidade bimestral e ao valor de R$12,90. O mangá foi o primeiro da Panini impresso em uma nova gráfica após a chamada “crise do papel”
que se instalou no Brasil em 2015 com a alta do dólar. E aqui tivemos
nossa maior surpresa: a impressão ficou ótima. Para os fãs do offset,
Tokyo Ghoul apresenta um papel tão branquinho quanto.
Já para a turma do
jornal, o título mantém a gramatura de 52g, porém com um tato diferente
de todas vistas antes praticadas por aqui. As páginas são pouco
porosas, causando uma sensação de ser mais “lisa” em sua superfície.
Além disso, o mangá apresenta a tinta preta em abundância e mesmo assim
não tivemos o problema do quadrinho “carimbar” nossos dedos. No mais,
adaptação e edição sem reclamações. Toda a parte editorial é
extremamente caprichada.
E falando em parte editorial, vale citar o trabalho com a capa. A edição nacional ficou realmente linda,
com a capa frontal como no original e a traseira com uma ilustração que
originalmente pertencia a orelha. O logotipo lembra o de outras edições
pelo mundo, mas não chega a ser igual a outros. Já a capa interna conta
com impressão colorida e o freetalk do auror de forma muito elegante.
A primeira
edição acompanhou um marcador de páginas da série. Para os que
compareceram no Anime Friends 2015, no lançamento, ainda ganharam um
poster exclusivo.
CONCLUSÕES FINAIS
Tokyo Ghoul foi o mangá mais pedido do último ano e a Panini trouxe e parece não estar se arrependendo (o primeiro volume esgotou
em menos de um mês e uma nova tiragem já deve estar sendo preparada). O
mangá se tornou uma febre pois apresenta muitos ingredientes pops
atuais. Ação com muito sangue (c’mon, a galera gosta disso desde Elfen Lied),
um traço bem diferente do autor e uma história realmente viciante,
apesar de muitos descordarem – e aí entrarmos na questão pessoal. O
título com certeza não é o melhor mangá que você lerá na sua vida, mas
você também não vai querer rasgá-lo após a sua leitura. Pelo contrário,
pode ser uma enorme surpresa caso você nunca tenha nenhum contato com a
franquia antes.
Vale lembrar
mais uma vez que o anime diferencia em muito de seu mangá, portanto se
você julgar a série por ele, dê uma segunda chance. Mais uma vez é um
título atingido pela “síndrome anti-modinha”, mas que em 80% dos casos as pessoas que falam mal sequer leram o material. Largue disso. Tokyo Ghoul é um bom título e que será de bom proveito na sua prateleira de coleções.
Pontos Positivos
- História envolvente, que te dá vontade de descobrir o que está por vir;
- Arte bem diferente do autor, com destaque para as belas capas;
- A nova gráfica escolhida pela Panini para Tokyo Ghoul nos entregou um trabalho incrível.
Pontos Negativos
- Protagonista chorão, porque estamos cansados de protagonistas assim;
- O mangá tenta dar um teor psicológico, mas fica devendo;
- Incerteza do quanto o autor esticará a continuação, Tokyo Ghoul:re.
FICHA TÉCNICA
Título: Tokyo Ghoul (東京喰種)
Autor: Sui Ishida
Editora: Panini
Total de volumes: 14 (1ª parte concluída)
Periodicidade: Bimestral
Valor: R$ 12,90
Nota Volume 1: ★★★★
Concordo com você. Já li o manga duas vezes (todos os 143 capítulos!), e também acho que o aspecto piscológico não é abordado tanto em Tg, mas às vezes aparecem coisas durante a história que parecem nonsense ou irrelevantes, mas ela não são. Definitivamente não são, pois são completamente importantes para uma compreensão mais profunda - principalmente em Tg:re.
ResponderExcluirSobre o traço, ele escandaliza com sua melhora conforme o tempo. Comecei a ler Tg - primeiramente pelo anime, mas depois - pela atmosfera obscura e o estilo do autor, embora algumas partes eu boiasse, mas depois peguei o jeito.
Você também disse sobre o protagonista ser chorão, e isso também me irritava muito! Mas apartar do terceiro volume, ele cansou de ser "inútil", e aí que fica muito mais envolvente.
- uma grande fã de Tg, que não poderia deixar de comentar o quanto ela ficou depressiva com o final, estando depressiva até hoje.